Teresa Zimny, 2022.
Talvez sobreviver seja o bastante. Não sei. Depois dos 20 eu acreditei que sim. Mas a pergunta que, sorrateira, se aninhou em mim, me deixou pensando. Porque se há uma coisa em que sou especialista é no hoje. A minha carga emocional me exigiu que eu parasse de fazer download dos problemas do amanhã, me ensinou, ainda que aos poucos, a parar de carregar na mochila os problemas do ontem. Porque tudo o que sou é agora. Tudo o que tenho é hoje.
Eu aprendi, em meio às turbulências, a dar uma chance ao hoje. E tenho procurado deixar o ontem para trás e a pedir que o amanhã espere a sua vez. E deve ser por isso que eu tenho medo de fazer planos para mim. Deve ser por isso que durmo abraçada com os entulhos do meu coração. Deve ser por isso que eu abro a porta para o medo e ofereço abrigo, que eu mostro o caminho da cozinha para a insegurança quando ela anuncia nos classificados que pretende dar uma festa, mas falta lugar.
Eu queria saber dizer ‘não’ ao meu instinto de apenas-sobrevivência. Se eu consigo controlar a minha bexiga, os meus gastos, o meu tempo, a minha rotina de cuidados com a pele e a dosagem dos meus medicamentos, por que eu não consigo controlar meus pensamentos? Talvez seja por isso. Exatamente. Talvez seja pelo meu medo de viver. Porque viver me pede que eu saiba reconhecer o que eu mais quero no mundo e querer implica planejar até conseguir realizar e planejar me lembra de que eu tenho de pensar num futuro para mim e pensar nesse futuro me leva a esperançar, mas a esperança quase sempre me trouxe frustração. Então não, obrigada. Eu já tive demais. Obrigada, mas não. As prateleiras estão cheias. Não. Eu não tenho mais etiqueta para rotular meus desapontamentos por data. Não. Não. Não.
Talvez, realmente, sobreviver seja o bastante para mim. A vida sempre se reinventa para o bom e para o mau. E eu? Não sei. Acho que viver é para os outros e eu não sou todo mundo. Eu sobrevivo. E é suficiente. Porque eu ainda estou aqui. Porque eu ainda existo. Porque eu continuo fazendo o que gosto. Porque eu ainda resido num mundo que não me recebe de braços abertos e, olhe só, estou bem neste mundo que me lembra todo os dias que eu sou bem-vinda até certo ponto. Porque eu também não sei como viver, então preciso improvisar. E meu improviso é a sobrevivência. E eu estou conseguindo, caso você se pergunte. Me pergunte. Para quem nunca viveu antes, considero esta minha vida um caso de sucesso.
Sabia que eu não gosto de receber flores? Eu odeio ver algo morrendo. Principalmente porque eu não posso fazer nada a respeito. Não adianta se eu regar melhor, se fizer a poda como recomendado ou trocar o vaso; e isso me dói. Mas depois que as flores morrem eu me alegro novamente porque eu amo pétalas secas. Antes que você me pergunte, eu amo jardins. Eu gosto da primavera. Da primavera invertida. Da primavera do avesso que me mostra a beleza existente naquilo que já-não-é, naquilo que vive-após-viver; que sobrevive. Como eu.
Sobreviver me ensinou a baixar a guarda e encarar a vida como um pêndulo de hojes enquanto olho o infinito mar da alma que vai e vem e que me lembra de que tudo passa enquanto eu sobrevivo no hoje; enquanto eu me costuro ao viver.
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