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Foto do escritorVanessa Reis

a fragilidade resiliente

dias de tudo isso. dias de só isso. dias.


and she continue - a successful woman

Devendra Banhart, numa entrevista que ouvi, estava comentando sobre o livro “When Things Fall Apart” (Quando as coisas desmoronam), da monja budista Pema Chödrön e, entre todas as coisas que me chamaram a atenção, ele citou o título desse texto: a fragilidade resiliente.


Fiquei refletindo sobre isso durante um tempo, amadurecendo a ideia sobre “manter nossa fragilidade resiliente” e percebi que, entre todos os sentimentos que caíram sobre mim como chuva torrencial, nada desmoronou. Não sei se meu olhar foi redirecionado das dores para a beleza do mundo. Não sei se estou processando os acontecimentos a banho-maria. Não sei se estou exigindo um pouco mais de paciência, de gentileza, de atenção, de calma, de compaixão de mim para mim mesma. Mas sei que estou de pé. Apesar de tudo.


O que me faz pensar na espera. Palavra contida na esperança. Palavra que se desdobra em outras duas palavras no francês: espoir e espérance. A primeira, tem apego ao resultado que a aguarda. Mas apego não é a raiz de todo sofrimento? A taurina em mim balança a cabeça em concordância. Devo desistir da “espoir”. Devo desistir dessa esperança e seguir o conselho do T.S. Eliot “eu disse à minha alma: fique quieta e espere sem esperança porque a esperança seria esperança para a coisa errada”. Devo encontrar a “espérance” e esperar sem pensar porque o verdadeiro trabalho vem da espera; esperar ao calar para, continuando o texto do T.S. Eliot, “espere sem pensar, pois você não está pronto para pensar: então as trevas serão a luz, e a quietude a dança“.


Penso que a resiliência da fragilidade vem com o conforto de se permitir calar. Fazer silêncio para encontrar perspectiva. Fazer silêncio para ouvir melhor. Para reverberar. Fazer silêncio para apreciar os detalhes que nos cercam e, nas palavras da Matilde Campilho, entender que “a poesia, a música, uma pintura não salvam o mundo. Mas salvam o minuto. Isso é suficiente.” Penso que comecei a salvar minutos; e isso é bom. Penso que comecei a me amar enquanto frágil. A me amar enquanto forte. Dei o primeiro passo. E se isso durar apenas um minuto, terá sido suficiente.


Deixe tudo acontecer com você: da beleza ao terror; apenas continue; nenhum sentimento é definitivo. (Reiner Maria Rilke)

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